quinta-feira, 8 de agosto de 2013

I Conversão

                                                                            I

Deus Pai, Onipotente, Onisciente & Onipresente, perdoai-me. Como permiti que tentassem arrancar-Vos de mim? Que lassidão dominou meu espírito, a ponto de ser permissivo & aceitar que Vos blasfemassem intimidante, insistente & incessantemente? Como ousei assentir com o triunfo do império da ira & da concupiscência, menosprezando a portentosa regência da razão? Por que não desejei com toda a força de minha alma & de meu entendimento dispor a mim mesmo para o melhor estatuto de espírito, para a excelência ótima da famélica pobreza espiritual?

Eu tinha fome do pão dos anjos, mas privava minha alma, minha mente & meu coração dos frutos da Árvore da Vida, da flama viva de amor que jorra radiantemente de Vosso Verbo, de Vosso Unigênito Filho, Vossa perfeitíssima imitação, nosso Deus, porque Ele realmente pertence à linhagem de Davi, realmente nasceu da Virgem Mãe e realmente foi cravado na cruz para nossa Redenção. Cristo, o Verbo encarnado, concreta e verdadeira humanidade de Deus Pai, morreu a vergonhosa morte de ladrões e assassinos por nós, ressuscitou por nós, & a beleza de nossa vida está em imitá-Lo, até na Paixão de nosso Salvador.

Duvidando dessa concretude, o lobo, a raposa & a serpente me amordaçaram, para que eu não expressasse fervorosamente a intensidade de meu amor por Cristo & pelo Uno absoluto, Deus Pai, que existe em Santíssima Trindade. Aquelas feras, contudo, não suportam a sinfonia da concórdia que canta amorosamente & a uma só voz a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo, porque elas, dominadas pela conflagração de sua soberba, de sua cólera e de sua luxúria, desconhecem a consonância harmônica dos corações que musicam sua salmodia para dirigirem suas vidas à cidade celeste, pois a bestialidade daquelas criaturas, semelhante à dos anjos malevolentes, as impede de participarem na geometria do universo como as tonantes cordas de uma cítara que louva o Senhor.

Desde a mais tenra idade vivi sob o tirânico despotismo daqueles que me dissuadiam, dia e noite, semana após semana, mês após mês, por anos a fio e incansavelmente, a não ter parte em Deus Pai, pois apedrejavam & linchavam, com sua fétida verborragia ctônica, todos os que serviam aos diáconos, aos presbíteros & aos bispos. Aquela alcateia de lobos maquiavélicos togados com os ornamentos tomados aos sofistas envenenava, tanto nas assembleias públicas como nas praças de lazer, as almas de todos os seus concidadãos, para que estes não agissem em nome da fé, da esperança e da caridade, para que não colaborassem uns com os outros para a celebração de uma comunidade virtuosa fundada em uma inabalável crença no Reino de Deus, para que não combatessem o bom combate, para que não cooperassem fraternamente, para que não sofressem com paciência as dolorosas difamações movidas contra quem evangeliza melifluamente para agradar ao Senhor. Muito ao contrário, aqueles lobos atormentavam-me desde a infância com suas fábulas difamantes, caluniando os apóstolos & a instituição eclesiástica, não porque fossem boas ovelhas denunciando a opressão de carniceiros que maculavam suas batinas com pecados indecorosos, mas porque eram virulentos vetores de todo tipo de discórdia, promotores da deserção maciça no interior do rebanho.

No entanto, em minha alma desejava que o batismo perpetuasse como um broquel, minha fé continuasse como um elmo, minha potente lança fosse sempre a caridade, & nunca tivesse por grossa armadura senão o exercício da paciência, permanecendo um valoroso guardião obediente não só à Hierarquia Celeste como àquela encabeçada supremamente pelo sucessor de Pedro. Pois todos os que cremos na Santíssima Trindade & desejamos viver a fé na comunidade onde vige a hierarquia eclesial para congregar-nos na unidade fundamental em Cristo Redentor, sabemos que podemos ser as plangentes cordas da grandiosa cítara que, afinada com o tom de Deus em Sua unidade, semeia por toda a Criação a harmônica sonoridade do concerto & da sinfonia, reflexos do Paraíso em que todo Onde é a pura Música da Luz.

Caros irmãos, eu vos convido ao amor & à união, pois somente edificaremos uma comunidade harmoniosa & consonante, se orarmos de acordo com Cristo Salvador na última ceia, reunindo-nos todos em uma única súplica, em uma única mente, em uma única esperança no amor, acorrendo todas as ovelhas para o seu Pastor, Jesus Cristo, o único templo & o único altar do Criador do Céu & da Terra, pois o Verbo encarnado é um, permaneceu unido ao único Deus Pai procedendo Dele, retornando a Ele na unidade, como já pregava Inácio de Antióquia, santa voz que tanto incomoda a súcia de malfeitores ctônicos. Pois Jesus Cristo está onde está a Igreja Católica, & a comunidade dos crentes fiéis a Jesus Cristo deve primar pelo amor, presidindo digna & veneravelmente, porque presidindo à caridade para com os irmãos depauperados, pobres de espírito, que necessitam da bem-aventurada comunidade que observa o mandamento de Cristo visível na unidade do exercício da fé & da caridade, excelências qualitativas dos fiéis que fundam e coroam a unidade da Igreja Católica, universal em seu amor, porque nosso coração almeja unir-se com Ele & viver n’Ele, devotando-nos à Sua Igreja, em unidade com o bispo, para servir generosamente à comunidade e ao campo a ser semeado, o mundo. Porque o dogma fundamental, combatido com incendiários petardos pela serpente alada como um anjo, é que Cristo é homem & Deus, não se podendo dividir a humanidade & a divindade de Nosso Redentor, da Árvore da Vida, do Cordeiro imolado para redenção de nossos pecados. Jesus Cristo é Aquele indiviso, sendo dever da comunidade fiel estar cada vez mais de posse desse dogma, para que todos comunguemos igualmente no interior da Igreja & evangelizemos o Reino de Deus desde o centro & o topo dessa comunhão fundada na imitação da unidade originária & pura, prerrogativa de Deus que é trina Luz.

Se isto realmente aconteceu por toda parte, em Roma, Antióquia, Esmirna & Magnésia nos tempos primevos, humildemente flexiono meus joelhos para implorar a Deus Pai Todo-Poderoso a graça da unidade, para que todos nós nos amemos uns aos outros com um coração indiviso, porque por Vós, Luz Trina, Família de amor, nossos espíritos se ofertam em oblação, para que possamos ser encontrados nos braços do Cordeiro imaculados, purificados pelo amor.

 Nossa Senhora, valei-nos! Intercede por nós, para que edifiquemos, purificando-nos por meio do amor divino de nossos pecados, a comunidade unida em concordante e sinfônica canção, & cantemos a unidade de Deus a uma só voz!  

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