IV
Nosso Senhor & Salvador
Jesus Cristo, Árvore & Livro da Vida, eu só experimento neste subúrbio o
amargo sabor da solidão espiritual, pois as culturas não se cruzam em praça
pública, porque nossos libertários decidiram que a axiologia cristã deve ser
“protegida das paixões populares”, & por isso os materialistas trancaram
Vossa palavra dentro dos muros de nossas Igrejas. Nossa cidade é símbolo de uma
oligarquia demagoga, onde jovens desperdiçam suas vidas fumando pedras
entorpecentes sob os olhares desdenhosos dos rebeldes que combatem pela
liberdade absoluta de cada um de precipitar-se no abismo do Nada, quando nenhum
deles há que não oriente sua prole a conduzir-se em conformidade com os bons
costumes da sociedade burguesa que eles hipocritamente criticam. Não, os
libertários, com seu egoísmo de burocratas que detestam o monarca & a
Igreja só porque querem comandar como uma nova aristocracia & dar sermões
(imorais) como novos sacerdotes, pouco estão se lixando para a violência que
grassa nos subúrbios. Se jovens depauperados são executados nas vielas, nossos
libertários bradam contra a segurança pública, nunca contra a narcoguerrilha,
pois só se associam com a mais absoluta licenciosidade (desde que o sangue
inocente não espirre nos muros de seus condomínios).
Minha maturação espiritual
ocorre passo a passo, ao tomar consciência de que não posso declamar salmos
imprecatórios contra criminosos hediondos, de vez que libertários &
anarquistas se dão as mãos para garantir como direito individual fundamental a
liberdade absoluta dos hediondos narcotraficantes, que pela lei mais eivada de
iniquidade, não podem sequer ser investigados, & menos ainda reprovados
moralmente. Ó tempos! Ó costumes!
Eu mesmo me exortei a
perscrutar o caminho da verdadeira fé, ainda que começasse pelos diálogos de
Platão, porque pertence à nossa tradição aquela fé que busca o intelecto.
Contudo, em meu caminho encontrei uma Pessoa, Jesus Cristo, Deus humilde que se
fez pequeno para que pudéssemos ver a grandeza do Pai. Em Jesus Cristo, Deus
Pai, nosso rochedo & nossa fortaleza, nos exorta para que determinadamente
caminhemos pela única via que nos conduz à luminosa Verdade. Ele nos exorta ao
batismo na Igreja Católica, para que nos tornemos Seus filhos, & tenhamos
em Cristo Rei nosso educador & nosso mestre, pois a profundeza de seus
ensinamentos de amor (Amai-vos uns aos
outros, assim como eu vos amei), dá o horizonte a ser seguido no percurso a
ser trilhado, não sem fadigas, pelo catecúmeno & pelo batizado, que logo é
exortado a treinar seu voo com as asas da Fé & da Razão no sentido de
conhecer o Verbo de Deus, Jesus Cristo, a Verdade. Só podemos conhecer a
Verdade se conhecemos a Pessoa de Cristo Rei, nosso Deus.
Por isto, não confundimos a
verdadeira gnose, a verdadeira inteligência que alcança a Verdade divina, com
todo o discurso falso dos gnosticismos órficos & niilistas, que tentam
encobrir a Verdade com uma obscura poética das sombras. Porque só a fé
católica, compelida por uma exortação de princípio sobrenatural, pode
construir, pela razão, a verdadeira catedral do conhecimento de Cristo,
edificando a conversão maximamente verdadeira no caminho que deve ser
percorrido em nossa vida, erigindo, assim, a única & verdadeira Filosofia.
Porque só podemos desenvolver nossa fé cristã como a única & verdadeira
gnose se nossas almas se unirem a Cristo Rei, ao Cordeiro de Deus, aquele que
tira os pecados do mundo, a Verdade de Deus que nos exorta a nos conduzirmos
para Ele.
Todos os cristãos devem viver
sua fé em comunhão, & essa comunhão se dá na abertura de todos & de
cada um para a santidade, esse horizonte de resplendentes raios de amor. Se os
cidadãos vivem a fé em seu cotidiano, orando, praticando os mandamentos de amor
ordenados por Cristo Rei, indo à missa & dedicando-se, na medida do
possível, a evangelizar o Reino dos Céus, sempre observando os dogmas da Igreja
encontrados nos Pais & Doutores da Igreja, como em São Clemente de
Alexandria, é um nível de experiência cristã bastante louvável. Pois há quem,
no interior dessa comunhão da fé, possa ser chamado de verdadeiro gnóstico, ou
de cidadão verdadeiramente inteligente & crente, que se põe de coração
& de mente abertos à perfeição espiritual, que corresponde ao percorrer de
um caminho em busca do conhecimento do Verbo de Deus, tendo por educador &
mestre Jesus Cristo, para que assim possa alcançar as verdades constitutivas da
fé & a Verdade mesma, Cristo Rei que nos resgatou & nos reconduz a Ele
mesmo, que é o Caminho, a Verdade, & a Vida.
Contudo, o conhecimento
alcançado pelo verdadeiro gnóstico, é uma experiência viva da fé católica,
porque nem se reduz a uma simples teoria sobre o conteúdo da fé nem é uma
prática do amor sem uma busca esforçada pelas verdades que constituem esse
mesmo conteúdo da fé: a verdadeira gnose é a união da alma do crente a Jesus
Cristo, pois o amor só transforma a vida do homem se este, exortado por Cristo
Rei, se deixar conduzir pela Verdade para a união n’Ela. Porque o autêntico
gnóstico conhece Cristo como o amor que desfecha o nosso olhar, gerando na alma
do homem a comunhão com o Verbo de Deus, aquele que dá sentido à vida humana,
& nela o cristão se unifica com Deus, pela contemplação da Verdade &
Vida do Verbo nessa comunhão, alcançada pelo conhecimento perfeito & pelo
amor. Filosofia & caridade devem doravante caminhar sempre juntas, pois o LOGOS é amor. Ninguém está privado da luz desse
amor, & todo coração humano pode converter-se em candelabro dessa luz.
Quando Deus criou o homem, Ele
nos criou concedendo-nos a conaturalidade com Ele, criando-nos à Sua imagem
& à Sua semelhança. Esse é o nosso fim último: tornarmo-nos semelhantes ao
Senhor. O propósito de encararmos o desafio & caminharmos guiados por
Cristo Rei é possibilitado por nossa conaturalidade com Ele, para que
caminhemos para nossa perfeição espiritual. Em primeiro lugar, o homem deve
aderir á fé católica, à comunhão que é conhecimento do divino Verbo, Verdade
& Vida, &, partindo dessa fé, vive-la no exercício da virtude, a qual
pode alcançar a visão contemplativa de Deus, Criador do Céu & da Terra. Não
podemos conceder maior valor à uma prática moralmente reta ou a um conhecimento
intelectual das verdades da fé, porque o exercício da virtude & a filosofia
andam de mãos dadas: eu não conheço a Deus sem viver guiado por Cristo, sem a
prática do amor, & não posso viver guiado por Cristo sem um conhecimento
íntimo do Verbo de Deus, sem a verdadeira filosofia construída pela fé. Viver
conforme o LOGOS, viver
conforme a Verdade anda de mãos dadas com a verdadeira Filosofia, & uma vez
que ambas as exigências são concomitantemente cumpridas (viver segundo Cristo
& conhecer a Cristo), o verdadeiro gnóstico pode assimilar a Deus &
contemplá-Lo. Se a sombra acompanha o corpo, as ações virtuosas devem seguir a
verdadeira Filosofia.
A alma do inteligente que
conhece a Verdade é ornada por uma dupla de virtudes que conjugam a
impassionalidade diante das paixões tiranas & a verdadeira paixão do
cristão, o amor daquele que busca unir-se intimamente com o Pai. A APATHEIA é a impassionalidade do autêntico
gnóstico, que busca libertar-se da tirania das perturbações passionais. O amor
é a verdadeira paixão daquele que aceita a condução de Cristo Rei, nosso
mestre, que nos exorta a subir de altura em altura em uma vertiginosa &
incessante escalada, no escopo de assimilarmos a Deus, possibilitando-nos, a
partir da perfeita paz concedida pela experiência do amor, encarar até o
extremo sacrifício daquele que aceitou caminhar guiado pelo Verbo encarnado
rumo à união com o Pai eterno. Para assimilar a Deus, a criatura humana fiel à
Verdade sabe que pode enfrentar até a cruz ao seguir as pegadas do Cordeiro de
Deus.
Faz-se necessário o diálogo
fecundo entre a filosofia platônica & o anúncio do Evangelho, nesta
modernidade libertária & comunista que desenterrou do esgoto das pulsões
ctônicas a tradição órfica, a ritualidade orgiástica, a violência de deuses
& heróis homéricos, a dilaceração da alma própria das personagens da
tragédia ateniense, a apologia estoico-niilista do suicídio, a imoralidade como
fundamento da ação política, a aversão à caridade como sinal de tradição
transvalorada, a sociedade sem classes inventada & dominada pelo Partido, a
luxúria mais voluptuosa como modo propriamente humano de viver a sexualidade.
Diante dessa expansão dos
panfletários do caos, cegos à tirania do narcotráfico, dos latrocidas & dos
cafetões, indiferentes ao pranto das mães que lamentam sua prole abandonada aos
vícios mais corrosivos & imiscuída na bandidagem sem esperança de uma vida reta,
só os arautos da noite da razão, ansiosos para copularem livremente com o que
há de mais sórdido, conscientes de que podem drogar-se, brigar sangrentamente
na rua, atropelar transeuntes, estuprar garotas bêbadas, & dedicar-se a
todo tipo de crimes maiores, sempre justificáveis pelo seu entorpecimento
espiritual & defensáveis pela legislação penal mais permissiva &
promíscua do cosmo, é que ratificam as filosofias da suspeita que demoliram
toda a cosmologia que enchia de sentido a vida de cada um de nós. Que os mais
renomados doutores em filosofia, os quais jamais contarão entre o número dos
verdadeiros filósofos, jamais tenham desejado outra coisa para esta sociedade,
senão que ela fosse minimamente organizada, minimamente segura &
minimamente educada para garantir os impostos ou as mensalidades que pagam seus
salários, isto se deve ao fato de que, contrários a toda nossa axiologia
católica, sempre se dispuseram a demoli-la intelectualmente, difamando-a,
caluniando-a, chamando a todos nós, que nos esforçamos para praticar a virtude,
de hipócritas, como se eles, tão somente preocupados com a satisfação de seu
baixo ventre, fossem a forma exemplar de toda virtude, pois a virtude, no mundo
libertário-social, é não ser caridoso, amoroso, esperanço, nunca ser fiel ao
nosso Deus, Jesus Cristo, o humilde nazareno, o Cordeiro que tem piedade de todos
nós.
Platão, aquele que começou o
combate sistemático contra os poetas & os sofistas, é uma propedêutica para
nossa fé católica, pois Deu concedeu aos helenos a filosofia para que ela fosse
um Testamento daquele povo: dois riachos confluíam, como revelação, para o
Verbo de Deus: um era aquele da lei mosaica para o povo judeu, outro era aquele
da filosofia grega para os helenos. É preciso que acentuemos, caros irmãos, não
só aos cristãos, mas também aos ateus & aos panteístas, que a verdade
pertence à esfera da metafísica, & que o discurso filosófico acompanhado
pela fé cristã é um cântico de louvor ao único Senhor & Criador do cosmos.
Cantemos com Clemente de
Alexandria ao único Pai, ao Filho, nosso pedagogo & mestre, junto com o
Espírito Santo!
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