Brasil, 2013 d. C. A
verdadeira revolução em andamento não é aquela da esquerda contra a direita, ou
do socialismo contra o capitalismo, como muitos ainda supõem: estamos diante da
insurreição das compulsões passionais (ira, gula, luxúria) contra o Império da
Razão (prudência, moderação, justiça). As filosofias do perigo, nomeadamente
aquelas de marx, freud e nietzsche, são os aríetes e os lança-granadas para
demolir as Catedrais da Metafísica e da Axiologia judaico-Cristãs. Quem não
percebe as performances demagógicas e populistas dos panfletários do caos, que
pregam a eliminação não só do Cristianismo, mas de toda Hierarquia dos Bens e
de toda Consciência Moral, afirmando, aos gritos e pedradas, que a ética não
passa de uma convenção social burguesa, e que a humanidade só será livre quando
viver seu tempo na orgia báquica da história, sem Remorso ou Arrependimento? Se
não há Paraíso nem Inferno, se os homens não devem amar e temer a Deus, se toda
a fé cristã é uma ficção produzida por tipos psicofisiológicos ressentidos,
autoflagelados e esgotados, ou de burgueses reacionários que não vivem o
submundo de suas pulsões ctônicas à flor da pele, extravasando sua libido no
livre exercício da incontinência e na dissolução da carne no subterrâneo
visceral de dionísio, o único caminho a ser desbravado em direção ao abismo por
essas almas deformadas só pode ser aquele da revolução. Já que toda a
civilização cristã, com suas autoridades estatais (Democracia Representativa) e
suas instituições eclesiásticas (Communio
Ecclesiae) são as responsáveis pela degeneração da sociedade, como se os
hermeneutas da suspeita, entronados como deuses por defenderem o paganismo
greco-romano em sua versão gnóstico-órfica, nada tivessem que ver com a
exortação ao suicídio, à escravidão, à promiscuidade sexual nos cultos ctônicos,
legitimando o aborto, o incesto, o parricídio, o matricídio, o infanticídio e a
pedofilia, a juventude rebelde, esse fã-clube de Maio de 68, deliberadamente
protesta contra tudo que aí está, pois ela crê que o assassinato, o narcotráfico,
o roubo e o estupro podem estar na ordem do dia. O que é a reforma do código penal,
senão um manifesto a favor da descriminalização do triunfo dos irascíveis e
concupiscentes? Tudo será descriminalizado, para que os únicos criminosos sejam
os ressentidos, os reacionários e os recalcados, isto é, todos os cristãos ou
criaturas de razão iluminada pela fé que insistam em amar a Deus e ao próximo
derrubando as estátuas dos deuses civis: o aborto, a toxicomania, a eutanásia,
o abolicionismo penal (para latrocidas e narcoguerrilheiros) e o paradoxal “casamento”
gay (que pode consistir em um matrimônio de até 2.378 cônjuges do mesmo sexo,
se as partes contraentes consentirem, segundo o novo evangelho dos libertários).
Que crime maior pode haver, para os réprobos, do que essa Iconoclastia? Assaltar os templos dos
deuses da cidade, depredando o apolíneo mármore entalhado com a face
histriônica de nero, com o sorriso psicótico de calígula, com as mãos pedófilas
de adriano, com o olhar bestial de domiciano, com o ânus sedento de baco e o pênis
fulminantemente violador de hermes, incendiando os altares onde eunucos e
hetairas celebram a doentia paixão de rimbaud e verlaine, os crimes de jean genet
e de marcinho vp, enquanto meretrizes entoam hinos de louvor ao abusador de menores que foi mao dzé
dong e ao confesso assediador de criadas que foi schopenhauer? Lancemos às flamas
mais ardentes o busto de nietzsche, que do alto de sua moral nobre, homérica,
trágica, báquica, transvalorada, aproximava-se das mulheres com um chicote e,
imerso nas fezes de sua luciferina solidão, ao mesmo tempo em que enaltecia o anticristo
só gozava nos dosséis das zonas de baixo meretrício! Lancemos ao precipício os
retratos de heidegger, cuja filosofia é uma apologia do terceiro reino
encarnado na nação germânica, atualização da potencialidade doentia que
enferrujava nos versos de hölderlin, nessa realização de uma sociedade de
fortes que estavam abertos para sua possibilidade extrema: tomar o seu lugar no
nada. São homens de três cabeças os que se dizem sábios: com uma exigem a
supressão da sociedade de classes; com a outra impõem a transvaloração dos
valores; com a de trás clamam pelo triunfo da incontinente libido sobre a
potência racional da alma. A terceira internacional dialoga com o terceiro reich
e com o fascismo, a nova roma, porque desde plekhanov os socialistas russos
afirmam-se imperativamente como o novo evangelho, como aqueles que trarão o
apocalipse e realizarão o reino da bem-aventurança da miséria universal,
cumprindo a insanidade de joachim de fiore. Segundo aleksander dugin, o
fascista russo, a última revolução será o império do fim, quando o acéfalo
carregar a cruz, a foice e o martelo, ensolarado pela suástica eterna, o
símbolo de todos os gnósticos. A cruz portada pelo acéfalo de dugin é um
símbolo de que, para essas almas réprobas, Cristo e lúcifer são um e o mesmo: o
império gnóstico, para além da esquerda e da direita. Segundo dugin, será o
regnum ilimitado do onipresente autocrata, reino do misticismo neopagão avesso
à razão iluminada pela fé, ao sistema axiológico metafisicamente fundamentado
da cristandade, e à dignidade da personalidade individual humana em sua imagem e
semelhança de Deus. O acéfalo imporá sua voz como a do pantocrator, católicos e
judeus serão proscritos por não aceitarem o primado das embriagantes forças
ctônicas. A Santíssima Trindade será abolida do imaginário, o autocrata será
divinizado e ordenará que sejam erguidos templos para que a massa amorfa e
acéfala cultue os efebos e as hetairas abandonados à voluptuosa tirania, que
diuturnamente viola seus corpos em uma entorpecente celebração do que há de
mais vermelho no sangue revolucionário.
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