Há
uma cláusula pétrea não escrita em nossa Carta Magna, mais em vigor, porém, do
que qualquer outra: a genuflexão aos Direitos Humanos da criminalidade
organizada. Em nome da conservação do bom mocismo socialdemocrata, o
narcoterrorismo não pode ser investigado a fundo pelos órgãos de segurança
pública porque nossa axiologia libertária (que absolutiza as garantias
jurídicas fundamentais de que os delinquentes se valem para perpetuarem suas
iniquidades) não admite que a autoridade estatal reaja aos ataques da
bandidagem senão com medidas socioeducativas e muito diálogo com essa súcia de
malditos. Infestação enfadonha da atitude complacente de Brizola e de Montoro,
que concederam à bandidagem a soberania sobre as comunidades pobres, que hoje
são reféns do PCC-CV em razão da instauração de um estado social que o tucano
ousava chamar de democracia cristã. Como se o amor ao próximo não incluísse a
aplicação da justiça penal, e o estado democrático de direito devesse representar
a oclocracia concupiscente e embriagante chamada narcotráfico.
Quando
narcotraficantes queimam ônibus, incendeiam suas celas e fazem reféns em
rebeliões nos presídios, atiram contra bases e delegacias policiais, executam
seus desafetos (sejam eles policiais negros e pobres ou concorrentes mais
ávidos de poder) e ordenam despoticamente o toque de recolher nas periferias de
nossas metrópoles, a grande maioria dos intelectuais das Ciências Humanas, dos
artistas engajados e dos advogados especializados em Direitos Fundamentais,
bradam em uníssono: menos punição, mais
educação; mais democracia e menos repressão.
Qualquer
cidadão que não padeça de ingenuidade crônica sabe que esses slogans da
socialdemocracia brasileira são parte de uma estratégia insurrecional para
alienar morbidamente todos nós de qualquer capacidade de reação contra a
tirania da criminalidade. Porque quando um revolucionário alerta que os
narcotraficantes são o que são devido à má qualidade da educação oferecida pelo
estado socialdemocrata, resta óbvio a qualquer suburbano idôneo que o
revolucionário tem um programa educacional bem debaixo do braço para afastar os
jovens da criminalidade e introduzi-los à única saída louvável aos olhos dele:
a militância comunista, também chamada, no ambiente pedagógico, de protagonismo
juvenil. Ademais, quando um revolucionário, diante da tirania da criminalidade
(visível em rebeliões de presidiários e na obrigatoriedade do toque de
recolher), exige menos atos repressivos das autoridades e mais práticas
democráticas, seja lá o que isso for para ele, qualquer suburbano honesto
reconhece de cara o ardil: a violência depredatória e desenfreada dos bandidos
é sempre propagada, difundida e enaltecida como uma resposta rebelde aos
excessos da autoridade policial, a qual é, portanto, sempre a única responsável
pela criminalidade que ela mesma diz combater.
Logo,
segundo esse ardiloso estratagema dos sedizentes transformadores sociais, não
são os narcotraficantes os verdadeiros culpados pela massa de crimes hediondos
cometidos em nossas metrópoles, mas o estado socialdemocrata que não lhes
ofereceu uma educação de qualidade (voltada para a formação de uma juventude
protagonista, ou seja, para a constituição de uma militância comunista), nem
soube escutar a voz das ruas (a qual clama ardorosamente pela extinção da
autoridade policial, não porque acredite no simplório Anarcopunk, mas sim porque deseja uma justiça comunitária, isto é,
tribunais e linchamentos populares).
Qualquer
semelhança com a Revolução Cultural proposta por Gramsci não é mera
coincidência: primeiro a maquiavélica intelligentsia nacional formou agentes
educativos para criar uma cultura insurrecional (baseada, sobretudo, no
niilismo e no marxismo); depois que a sociedade não mais detém um arcabouço
cultural para refrear a apologia da criminalidade, basta assistir ao espetáculo
da insurreição do narcotráfico, e apontar para o estado como responsável pelos
criminosos terem-na escolhido. Se narcotraficantes estão no submundo dos
tóxicos porque desde há décadas o entorpecimento da razão é propagado como a
mais nobre libertação do inconsciente, como a mais pura experiência da
dissolução e do desregramento báquicos, como a mais fácil possibilidade de cada
indivíduo escapar do estado repressivo da cristandade para o seio da
dilaceração que faz de todo toxicômano uma encarnação viva de Dioniso, o
embriagado deus do subterrâneo de nossas paixões, ninguém pode denunciar o
quanto essa lassidão moral já permeava a cultura de nossos letrados, fãs de
Maquiavel, Nietzsche, Reich, Baudrillard, Marcuse, Baudelaire, Blake,
Lautréamont, isso sem falar do culto à imoralidade integral de Sartre,
Foucault, Rousseau, Schopenhauer, e do ídolo de todos, por sua negação da
hipocrisia e completa assunção de sua torpeza luxuriosa, o filodóxo pornô
Marquês de Sade.
Quem
se insurgir contra essas estátuas sagradas cultuadas pelos babosos da academia,
não poderá concorrer, munido somente de sua superioridade intelectual, em
nenhum concurso para conquistar meritoriamente os títulos que aqueles ostentam
de posse de uma subcultura ginasial adequada a seus fins, fins esses que
poderiam ser resumidos à sua simples puerilidade: a subversão de toda a
tradição metafísica cristã, em nome de uma defesa do “outro lado da verdade”,
em nome de um combate à hipocrisia por meio de um convite à dissolução no
submundo, único mundo cognoscível aos cultores do deus coroado de hera.
Se
o mundo precisa viver seu submundo à flor da pele para tornar-se menos
hipócrita, como querem nossos libertários, anarquistas e tutti quanti, nada
menos razoável, para eles, do que a entrada em massa da juventude pobre para a
criminalidade, sem conceito algum de retidão que dê fulcro a ajuizamentos
morais, pois se a ninguém é concedido ajuizar ponderações morais sobre o erro
de conduta de quem se entrega à toxicomania, o único corolário que pode ser
deduzido dessa axiomática na esfera jurídica penal é que também não se atribui
a ninguém condenar à prisão quem vive de um narcotráfico tão solenemente
justificado pela nossa intelligentsia. Tudo em nome de uma suposta luta contra
a hipocrisia inerente à civilização judaico-cristã, e por uma abertura do homem
para sua extrema possibilidade: o Nada.
Se
cada indivíduo deve precipitar-se no abismo da hostilidade do mundo para amadurecer,
sendo tão hostil quanto isto lhe seja exigido da contingência que o cerca e o
informa, abandonando-se ao entorpecimento de suas faculdades racionais pelo uso
de drogas, ou regendo sua razão como escrava instrumental de sua vontade de
potência tornando-se dono do morro, isso é irrelevante para os filósofos da
suspeita, os soberanos de nossa academia, pois pouco lhes importa o que ocorre
nos subúrbios de nossas metrópoles. Com tanto que a intelectualidade permaneça
incólume em seu programa de suspeição diante de toda e qualquer tradição
axiológica metafisicamente construída sobre a fé (e é contra esta que eles
guerrilham), como se toda e qualquer ação justa fosse dissimulação de uma
hipocrisia natural ao próprio conceito de justiça divinamente inspirada (isto
é, todo santo só age interessado em sua glorificação pelos homens que assistem
a sua “performance”), de nada valem os esperneios da população pobre nos
cultos, marchas, romarias e missas: não são os filhos da intelligentsia que
fornecem cérebros, corpos e vidas para a dependência química ou para o tráfico
de drogas; como todos estamos cansados de saber, o grosso dessas tropas é
formado pelos rebentos dos pobres. A juventude niilista e marxista que queima
seu baseado nos CAs da vida pode vender o carro para tratar-se em clínicas
psiquiátricas, e depois pode posar de gnóstica órfica que desceu aos ínferos e
sabe a dilacerante verdade do Abismo, sem a graça penitencial, obviamente,
porque isso é coisa de pobre que acredita na ilusão sem futuro, isto é, no
Cordeiro de Deus.
Por
isso se explica a facilidade com que nossos doutores se arvoram em iconoclastas
sem nenhum mérito: em vez de derrubarem as estátuas daqueles que tanto
desqualificaram a cristandade denominando-a a sociedade dos esgotados,
fracassados, mórbidos, ateus (porque monoteístas), tiranos, repressores,
ressentidos, recalcados, burgueses, etc., eles preferiram erigir as inatacáveis
cátedras de onde, como panfletários do caos, podem apedrejar o cristianismo
(católico, ortodoxo, etc.), o que eles chamam de “platonismo para pobre”. Como
se Platão, preocupado com o Bom, o Belo e o Justo, não fosse, em muito,
superior a um Nietzsche preocupado com a embriaguez fisiológica capaz de fazer
o homem entrar em contato com seu subterrâneo ctônico, para nele dissolver-se
se entregando à toxicomania, ao banditismo e à promiscuidade sexual. Não foram
os beats exemplos dessa dissolução?
Afirmar
que Platão é o pai da eugenia quando estamos diante da oferta do aborto e da
eutanásia como serviços médicos a serem legalizados e amplamente
disponibilizados na rede pública de saúde, isso sim é hipocrisia, isso sim é um
retrocesso absurdo ao esgoto do totalitarismo, que confere ao estado-cientista
o poder total de vida ou morte sobre qualquer um dos esgotados, dos vulneráveis,
dos que ele chama de “ressentidos”. Afinal, nossa intelligentsia da suspeita
trabalha toda ela para a construção de um estado-fundador, de um estado-criador
da nova sociedade supostamente sem classes, de valores transvalorados e não
reprimida em sua incontinente libido.
Quase
ninguém escreveu com todas as letras que essa sociedade de “vanguarda” já
existe nas comunidades dominadas pelo narcotráfico: ninguém é mais rico do que
ninguém, entre a rua e a casa há uma continuidade, todo mundo é família, é tudo nosso; todo indivíduo é
subserviente à ditadura dos caciques; ninguém tem autoridade para ajuizar o
moralmente belo nem o racionalmente verdadeiro; homens e mulheres devem
extravasar sua libido alegremente nos bailes funk, ao som de alto-falantes, fogos
de artifício e rajadas de AK-47. É a oclocracia do amor-próprio, chefiada pelo Übermensch, cultora das forças ctônicas,
abandonada ao império da cólera e da volúpia, palco onde argutos demagogos
promovem o ódio e a vingança (de crianças contra pais, de mulheres contra
homens, de negros contra brancos, de pobres contra ricos, de pagãos contra
cristãos, de gays contra heterossexuais, do morro contra o asfalto, etc.), como
motores da expansão da nova Babilônia. Nela, toda alma que anela a honestidade
só pode se achar no exílio.
Por
incompreensão total da república platônica ou da cidade celeste agostiniana,
ambas consistindo em denúncias dos motivos da degeneração do convívio
sociopolítico, propondo o verdadeiro filosofar sobre a possibilidade de sobrevivência
daquelas comunidades que não atinavam para suas equivocadas concepções de si
mesmas, nossa intelligentsia não só subverteu o valor dessa tradição
metafísica, como faz dela diuturnamente uma propaganda negativa, quando na
verdade totalitários são aqueles que arrancam de cada homem o seu direito ao
verdadeiro, ao belo e ao justo, e expulsam dos templos, das salas de aula e das
mesas de debate o grito atormentado de todo aquele que não deseja gemer sem
esperança no inferno criado e comandado pelo poder anônimo, mas onipresente, do
niilismo e do marxismo.
Dessa
forma, insistir na pertinência de um debate acadêmico sobre a relação entre
democracia e cristianismo, por exemplo, não só é totalmente inútil na atual
conjuntura, como é sintoma de uma alienação patológica dos liberais e
conservadores que ainda não compreenderam o comunismo como uma teoria da ação
revolucionária, da ação supressora de toda a tradição axiológica judaico-cristã
ocidental, e que persistem na supersticiosa crença de que o comunismo se resume
a uma estatização da economia ou a um estado opressor. Nossos liberais ainda
não perceberam o trabalho das ONGs na legitimação do mercado informal, gerador
de renda sem tributação, nem se conscientizaram de que os marxistas não se
importam com a ação da criminalidade, só com a reação da Polícia.
O
comunismo é a onipotência de uma cúpula hereditária no governo e a anarquia
total na base (na Rússia, os servidores públicos adoram ser subornados; em Cuba
a quimbanda, crença respeitadíssima, faz o mal ao próximo sem crise de
consciência, e a prostituição é altamente recomendável; no interior da China
homens e mulheres vivem separadamente e variam o menu sexual quando querem; os
guerrilheiros das FARC usam e abusam dos corpos femininos, elegem o bumbum do
ano e treinam crianças para morrerem nos combates). Desde que ninguém se diga
contrário ao regime, está tudo na lei.
Ademais,
a esquizofrenia da maior parte de nossos liberais e conservadores é manifesta
na defesa que eles empreendem da liberdade absoluta do mercado, o que
supostamente contraria o livrinho de regras do comunismo, combinada
paradoxalmente com a propagação virulenta das críticas mais rebeldes a todo e
qualquer sistema axiológico metafisicamente fundamentado (o cristianismo
católico, o ortodoxo, etc.), difundindo um niilismo que se harmoniza
sinfonicamente com os preceitos de guerrilha cultural também fixada por aquele
mesmo livrinho.
Se
todo justo só é aparentemente justo, sendo na verdade um hipócrita, que
dissimula o seu interesseiro amor-próprio sob a capa da justiça beatificante,
de vez que só vemos as aparências e só as aparências nos importam, é possível
denunciar a hipocrisia do militante socialista que, conforme Plekhanov, faz
propaganda do Novo Evangelho, do Socialismo Científico, como salvação da
humanidade, mas é impossível discordar do militante quando ele afirma
categoricamente (desde que atenda à subversão, todo equívoco é válido) que o
sistema teológico-filosófico metafísico possibilita o Absolutismo. Desde 1883 o
comunismo tem sua doutrina: Plekhanov não só examinou as diferenças entre
liberais, anarquistas e socialistas, como soube programar uma combinação dessas
forças antagônicas, cada qual tomando a imagem degenerada (monarquia absoluta)
pelo espírito da Verdade (tradição metafísica cristã), alicerçando
intelectualmente a explosão da revolução consumada em 1917. Desde Maio de 68
nossa intelligentsia entendeu que também podia subordinar os niilismos de
Nietzsche, a crítica do cristianismo popular efetuada por Freud, às estratégias
de guerrilha cultural gramsciana, para infestar o imaginário popular com a
univocidade marxista. Está funcionando de uma forma inacreditável, enaltecendo
a inveja, a vingança, a luxúria e a ira, paixões próprias dos regimes do
amor-próprio: a timocracia, a oligarquia e, o pior de todos a oclocracia.
O anelo de uma sociedade que não tenha por fim
o amor-próprio dos homens, seu timocrático apetite de glória terrena (que
degenera na oligárquica concupiscência por superabundância de riquezas), mas a
experiência, na medida do humanamente possível, da cidade celeste, guiada pelo
conhecimento da Verdade, e vivida na fé, na esperança e no amor ao próximo, não
pode sequer ser cogitado em debates públicos se não nos conscientizarmos de que
estamos sendo apunhalados pelas costas pelo partido governante que não só
aglutina a militância cultural dedicada a difundir a tal Hermenêutica da
Suspeita por toda parte, como é membro fundador de uma entidade que há vinte e
três anos colabora com a narcoguerrilha que fomenta o narcoterrorismo
brasileiro: estou falando do Partido dos Trabalhadores, do Foro de São Paulo,
das FARC e do PCC-Comando Vermelho. Estou falando dos demônios do Anticristo.
Enquanto
nos fizermos de eunucos aduladores, para não incomodarmos quem não suporta o
primado da temperança, dissimulando nossa virtude para não parecermos
demasiadamente famintos dos dons da prudência, da justiça, da coragem e da
moderação (os quais nunca devemos cansar de pedir em nossas orações), o
Anticristo nos apunhalará covardemente no escuro da entorpecente treva que ele
astutamente trouxe para o seio de nosso espírito, para dentro dos muros de
nossa vontade e de nossa razão, na audaciosa tentativa de roubar o pão dos
anjos anelado pelo nosso já inquieto coração, agora ainda mais desassossegado.
Incumbe-nos, assim, não sermos mansos com as paixões dissolutas, nem puros de
coração por vanglória, nem pacificamente submissos ao império da imanência, mas
preparados para confrontar esses demônios com a firmeza da fé unida à razão,
porque a sobriedade de quem humildemente filosofa segundo a via de Cristo,
Sabedoria de Deus, regendo-se o máximo possível pela prudência, pelo
discernimento das culpas, pela penitência contínua e pela caridade, não
escapará da difamação promovida por aquele que milita segundo a carne, e será
chamado de tirano pelo flanneur
ebriamente escravo de seu próprio baixo-ventre, no contínuo desconcerto desta
oclocracia intitulada Brasil.
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