Não houve um só momento na
recente história brasileira em que a intelligentsia nacional, completamente
dominada pela sua concupiscência e pela sua ira, tenha deixado de justificar, celebrar,
glorificar e sacralizar o carnaval brasileiro como fonte da moral pátria, o que
já nos informa que ela não só é socialista como também licenciosa ao extremo (o
degenerado regime que em grego se chama oclokratia). [i]
Toda
vez que um cidadão, diante do carnaval, se escandaliza com a imensurável ausência
de valores morais, os quais não só possibilitam uma experiência de vida
harmônica na cidade (e, por que não dizer sinfônica),
como também lhe apontam seu próprio sentido, a corriola inteira dos marxistas,
niilistas e freudianos de plantão alardeia em praça pública que o brasileiro
padece de um conservadorismo autoritário, fascista, coisa de gente
desinformada, atrasada ou, como os filósofos do perigo gostam de afirmar
categoricamente, quem moraliza é sujeito
mal esclarecido e crédulo, ingênuo e supersticioso.
Desqualificando
assim toda pessoa que, deliberando e decidindo desde o centro e o topo de sua
consciência moral fundada sobre as verdades da imortalidade da alma e da
existência de Deus, nossos acadêmicos escarnecem da palavra moralidade nas salas de aula, ao mesmo
tempo em que enaltecem como o melhor e mais alto espelho da nação a nudez
despudorada, a batucada frenética, a incontinência da luxúria e a violência dos
quebra-paus de rua como sendo os componentes da experiência psíquico-fisiológica
por excelência do entorpecimento mais libertador. Segundo a Filosofia da
Suspeita que jamais pisa o território onde a oclokratia medra
e abunda a felicidade humana só pode ser atingida pela alegria da libido, pela
subcultura marginal que faz as apologias do banditismo social, da intolerância
aos símbolos cristãos e da dilaceração do indivíduo na torrente da toxicomania,
da promiscuidade orgíaca e do exibicionismo de todas as obscenidades privadas.
Ainda
que o cenário cultural fabricado pelos panfletários do caos venha produzido
desde os gabinetes de nossa inquisidora intelectualidade (pois quem suspeita se
posiciona como magistrado para julgar segundo sua idiossincrática hermenêutica
de Marx, Freud e Nietzsche), ainda há cidadãos que, como este que vos escreve,
preferem o ostracismo à mordaça daquele que caiu e que, sem fé, esperança ou
amor no coração, voluntariamente sobrevive dentro da caverna de suas paixões
mais perversas, encurvado sobre si mesmo e sempre olhando para seu
baixo-ventre, quando não para o chão cheio de dejetos, imaginando não haver
redenção no cosmos que ele, como todo idiota, sequer deseja perceber.
Quem
olhar para o Brasil desde o centro e o topo de sua consciência moral, seja
anelando pela visão do hipostático Uno-Bem dos neoplatônicos, seja crendo
fielmente na Santíssima Trindade, está plenamente avisado pela sua própria
convivência social de que não só é impossível condenar no mundo da cultura a
corrupção e a impunidade dos parlamentares degenerados, como é inviável recriminar
a conduta imoral de narcotraficantes, proxenetas, fraudadores, estelionatários,
latrocidas, assaltantes, estupradores e sequestradores, pela simples razão de
que libertários, socialdemocratas, comunistas e anarquistas bradam em uníssono
que é preferível manter o ritmo
carnavalesco da amoral justiça brasileira, do que dar ouvidos ao melhor que
o Ocidente já recebeu da Providência divina: a filosofia de Atenas, o arcabouço jurídico de Roma e o monoteísmo de
Jerusalém. É preferível, para nossa intelectualidade, celebrar o carnaval
como símbolo máximo da cultura brasileira e exortar a uma carnavalização geral
dos costumes, para que Pindorama não só encene o trágico Drama de um demagógico
Matriarcado de romancistas, como por esse teatro se liberte da Cruz, do LOGOS, de
toda Palavra, Razão e Sentido, para que vivamos perpetuamente a apoteose de
nosso amor-próprio, ingerindo o nocivo destilado da licenciosidade em estado
puro e nos entregando aos prazeres dos comícios, dos bailes e das orgias, para
que o OCLOS só
ouça o que lhe agrada, passe a vida requebrando ao som das pancadas eletrônicas
que varam a noite, e liberte sua libido de todos os grilhões postos em um corpo
humano que já não deve ser mais entendido como morada do Pai, sequer como
morada do Homem.
Animalizados
ao extremo pela subcultura da revolta, da suspeita e da desconfiança
disseminada pelo sistema educacional, detestando o cosmos e glorificando o
triunfo do caos, não é à toa que nossos jovens cultuam em seus corações uma
atmosfera caótica onde o ar é trevoso, onde ninguém está protegido da desordem,
do vício e da arbitrariedade dos outros, onde demônios atearam um fogo fatal em
todo o sangue adolescente: nenhuma paixão é ilícita, pois ilícito agora é orar
por moderação, prudência, coragem e justiça, uma vez que os portões da razão
foram arrombados por uma horda inflamada pelo encantamento das vozes trágicas
que arrastam, para dentro das catedrais, suas ancestrais majestades
monstruosas, os anjos caídos ansiosos por povoa-las com o caos de um Abismo sem
redenção: o eterno carnaval do OCLOS que vocifera NÃO ao Pai e assume para si
seu lugar no Nada.
[i]
Citarei nesta nota apenas uma das inúmeras reportagens produzidas para
descrever a montanha de cadáveres erigida morbidamente pela oclokratia que é o nosso carnaval. A reportagem segue citada na íntegra, para
que aqui não se omita nada do que o clima carnavalesco pode proporcionar de
pior na sociedade. Os nomes das vítimas também seguem incluídos na citação,
para que o leitor perceba que não estou falando de números, como os
intelectuais costumam fazer, mas de vidas humanas. Os filósofos da suspeita
pouco ou nada dizem sobre essas vidas humanas desperdiçadas no processo
criminalóide de dissolução e desregramento que eles propõem do topo de suas
cátedras. “CRIMINALIDADE EM ALTA: 48
assassinatos no Carnaval. Somente no Interior do Estado, 26 pessoas foram
executadas. Na Capital, um garoto de 10 anos de idade foi fuzilado. Um homem
foi assassinado e seu corpo deixado numa estrada de terra no Município de Aquiraz.
A Polícia identificou a vítima como Eliseu Neto Alves da Silva. Há suspeita de
uma vingança. Pedro Sousa Silva, 19, foi preso um dia após matar um garoto de
10 anos no bairro Tancredo Neves. Na Polícia ele não demonstrou nenhum
arrependimento. O crime estaria ligado ao tráfico de drogas. Na casa onde os
criminosos estavam escondidos a Polícia encontrou três revólveres de calibre
38, além de muita munição de reserva. O cerco foi montado pela equipe da FTA da
4ªCia/5ºBPM e Cotam. Um garoto de apenas 10 anos de idade está entre as 48
pessoas assassinadas em todo o Estado durante o período carnavalesco. Desde a
última sexta-feira, a Polícia fez o registro de 26 casos de homicídio no
Interior e outros 22 na Grande Fortaleza, sendo 16 em Fortaleza e outros seis
nos Municípios metropolitanos de Itaitinga, Guaiuba, Aquiraz (dois casos) e
Caucaia (também dois registros).A morte do garoto Claiton da Silva aconteceu na
noite de sábado passado, quando ele foi executado, com cinco tiros de revólver
(dois deles na cabeça), na calçada de um mercadinho localizado na Rua Padre
Francisco Pita, no bairro Tancredo Neves. Segundo a Polícia, uma desavença
entre gangues pelo controle do tráfico de drogas naquele bairro teria sido o
motivo da execução sumária do menino. Presos: No dia seguinte ao crime,
policiais da 4ª Companhia do 5º BPM receberam denúncia acerca de quem teria
praticado o homicídio. A tenente Nara Fernandes comandou a operação de cerco
aos acusados juntamente com policiais da Força Tática de Apoio (FTA) da companhia
e duas patrulhas do Comando Tático Motorizado (Cotam), do Batalhão de Polícia
de Choque (BpChoque), sob o comando do tenente Rafael Cidrim e do subtenente
Carlos.Numa casa situada na Rua Tibúrcio Pereira, no bairro Cajazeiras, os
policiais prenderam Pedro Jeová da Silva, 19; e Ronys Lima Morais, 18. Os dois
confessaram o crime. A Polícia deteve também Jociel Torres Gonçalves, 20, que
teria emprestado sua motocicleta para os assassinos do garoto fugirem. “Matei e
não estou arrependido, ele ia me matar”, disse Pedro Silva ao confessar ter
atirado no garoto. Segundo ele, o menino pertencia à gangue da ´Cinquentinha´,
que atua no tráfico de drogas no bairro Tancredo Neves e que seria chefiada por
um bandido conhecido por ´Tiaguinho´. Na casa onde os bandidos foram presos a
Polícia apreendeu três revólveres calibre 38. Crimes na RMF: A sequência de
assassinatos no Carnaval na Grande Fortaleza teve início ainda na noite de
sexta-feira na Grande Fortaleza, quando duas pessoas, identificadas como
Francisco de Assis Silva de Oliveira e José Reginaldo Domingos de Paula, foram
mortas nos bairros Maraponga e Vila Manuel Sátiro, respectivamente. No sábado,
sete homicídios tiveram como vítimas Paulo Sérgio Rodrigues da Silva (no
Siqueira), Igor Ferreira da Silva (Mucuripe), José Ednaldo Vieira da Silva
(Itaitinga), Edmar Soares da Costa (Guaiúba), Francisco Denilson Pereira de
Sousa (Messejana), o garoto Claiton da Silva (Tancredo Neves), Antônio Rocha de
Sousa Júnior (Quintino Cunha) e Francisco Leandro Alves Damasceno (no bairro
Serviluz). No domingo, foram mais seis assassinatos, tendo como vítimas
Wállisson Oliveira de Carvalho e Reginaldo Moreira de Oliveira (duplo homicídio
no Conjunto Rosalina), Francisco Jeová dos Santos (Carlito Pamplona), Francisco
de Sousa Silva (Jardim Jatobá), Francisco de Assis Brito Alves (no Bom Jardim),
e Paulo Jackson Rael de Araújo (no Henrique Jorge). Na segunda-feira, seis
pessoas foram na RMF: Francisco Pereira da Silva Filho (em Aquiraz), Francisco
Henrique André Gomes (no Cambeba), Eliseu Neto Alves da Silva (corpo desovado
na Estrada da Boa Vista, em Aquiraz), Cláudio Roque de Assis (em Japuara,
Caucaia), José Audízio Moreira de Oliveira (na Jurema, Caucaia) e Francisco
Bergson Almeida Santos (no bairro Canindezinho). Interior: O maior número de
homicídios aconteceu no Interior do Estado, onde até a noite passada foram
mortas as seguintes pessoas, Luiz Alves (em Pindoretama), Cícero Fábio Pereira
Guedes (em Juazeiro do Norte), José Maria Rodrigues de Melo (Limoeiro), Maria
Rodrigues Sousa (Massapê), Expedito Ferreira (Jucás), Thiago Sousa Dias
(Itapipoca), José de Sousa (Quixelô), Paulo Sousa (Icó), João Soares Duarte
(Aiuaba), Gregório Francisco dos Santos (Viçosa do Ceará), Manuel Torres de
Sousa (Sobral), Francisco Paulino da Silva (Ocara), Rafael Jackson Bezerra
(Juazeiro), Alexandre Pinto de Lima (Sobral), Antônio José de Oliveira Silva e
Maria do Carmo de Oliveira (duplo homicídio em Quixeré), José Neto Vitor da
Silva (Jaguaribe), Cícero Cosmo da Silva (Acopiara), Francisco da Costa
Carvalho (Crateús), Cristiano Sobral do Nascimento (Cedro), Antônio Ximenes
Aragão (Varjota), Antônio Gomes (Quixadá), Natália Alexandrino Vieira
(Barbalha), Messias Nascimento dos Santos (Aurora), João Batista do Nascimento
(Acaraú) e Orlando Ferreira (em Itarema). Arsenal: 28 armas de fogo foram
apreendidas pela Polícia na Capital e no Interior durante o período de
Carnaval. A maioria era revólveres de calibre 38, além de pistolas de vários
modelos.”
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